índice1
ToggleUma decisão que mudou tudo aos 40 anos
Vitor Soares tinha 40 anos, uma carreira consolidada como advogado em Brasília e uma rotina confortável. Mas algo dentro dele dizia que ainda faltava realizar um sonho antigo: ser magistrado.
Hoje, Vitor é Juiz Federal no TRF-2, no Rio de Janeiro. Mas sua trajetória até aqui foi tudo, menos convencional.
“Eu espero que talvez a minha história possa inspirar dois tipos de pessoas: primeiro, quem verifica que na rotina não tem tempo para estudar. Essa sempre foi minha rotina […] E também eu vejo que muita gente já está se aproximando dos 40 anos, já chegou aos 40 anos e pensa que talvez o concurso da magistratura, por ser um concurso muito difícil, talvez já não seja mais para essa pessoa.”
Vitor não apenas provou que é possível. Ele mostrou como fazer.
Quando o Direito era apenas uma paixão escondida
A história de Vitor com o Direito começou de forma inusitada.
Aos 18 anos, ele prestou vestibular para odontologia. Não passou. E foi justamente esse “não” que o levou para um caminho completamente diferente.
Vitor cresceu em Brasília, em uma família onde o serviço público era quase uma tradição. Quando surgiu um concurso para a Polícia Rodoviária Federal, ele decidiu tentar.
“Foi justamente estudando para a Polícia Rodoviária Federal, que eu tomei meu primeiro conhecimento, meu primeiro contato com o Direito […] Eu confesso que eu me apaixonei pelo Direito Constitucional com 18, 19 anos e eu nunca tinha lido absolutamente nada de Direito. Eu fiquei realmente encantado com o artigo 5º da Constituição, os direitos e garantias fundamentais.”
Foi amor à primeira vista, e esse amor o levou a cursar Direito.
16 anos de carreira: do técnico judiciário ao delegado da Polícia Federal
Vitor passou no concurso da PRF aos 19 anos, mas foi reprovado no psicotécnico. A frustração poderia ter sido o fim, mas foi apenas o começo.
Ele entrou na faculdade de Direito e, ainda no primeiro ou segundo semestre, prestou outro concurso: técnico judiciário do STJ. Passou nas provas, mas foi reprovado na datilografia – sim, ainda era a época de máquina de escrever.
Mais uma vez, a reprovação não o parou. Um ou dois semestres depois, prestou novamente para técnico judiciário, dessa vez do TJDFT. Foi aprovado e finalmente assumiu seu primeiro cargo público.
Durante a graduação, o interesse por delegado da Política Federal começou a crescer.
Mas Vitor tinha foco: nos dois últimos semestres da faculdade, ele se dedicou intensamente ao concurso para analista judiciário do STJ – tanto que quase deixou de estudar para as próprias provas da universidade para focar no concurso. A estratégia funcionou: ele foi aprovado e assumiu o cargo de analista no STJ.
Mas a história não para por aí.
Logo após se formar, surgiu o concurso para delegado da Polícia Federal.
Vitor confessa que não tinha uma base tão boa em todas as matérias do edital, mas tinha estudado bem constitucional, administrativo, civil, processo civil, penal e processo penal para o concurso de analista.
E isso foi suficiente: ele foi aprovado.
“Eu me encontrei na carreira de delegado da Polícia Federal. Durante um tempo que eu fiquei como delegado da Polícia Federal, eu não mais tive interesse em concurso público. Eu estava extremamente satisfeito com a carreira de delegado da Polícia Federal.”
Foram 16 anos de dedicação à Polícia Federal.
Vitor ocupou grandes cargos, participou de operações importantes e morou em sete estados diferentes.
A carreira lhe deu autonomia, estrutura e experiências que ele jamais esqueceria.
“A minha admiração é extrema pela Polícia Federal. Eu não fiz apenas carreira, fiz uma grande família, grandes amigos.”
Aos 40 anos, com uma carreira sólida, uma vida financeira estável e respeitado em sua profissão, Vitor tinha tudo. Mas algo dentro dele ainda inquietava.
O recomeço aos 40 anos
Vitor estava com 40 anos quando tomou uma decisão que mudaria sua vida completamente.
“A minha decisão foi mais ou menos no 14º ano, eu falei: ‘Acho que vou voltar a estudar novamente’.”
Ele conversou com sua esposa, e a decisão não foi fácil.
Seus pais, já idosos e morando em Brasília, questionaram a escolha:
“Falaram: ‘Vitor, eu não tô acreditando. Está toda a família aqui em Brasília, para que você vai voltar a estudar e talvez nunca mais voltar para Brasília?’ E eu falei: ‘Meu pai, é realmente um desafio meu, pessoal, e eu quero ter essa experiência de vida’.”
Vitor tinha 42 anos e não fazia uma prova de concurso havia 14 anos.
“Eu não tive o privilégio de ter meu tempo livre para estudar. Então assim, meu tempo era muito escasso, porque eu ocupava o cargo de delegado da da Polícia Federal. E até na minha vida em geral, eu nunca tive o privilégio de apenas estudar, jamais.”
Ele tinha a sua rotina de trabalho das 8h às 18h. Não tinha como abrir mão do emprego, pois não havia reserva financeira suficiente para viver apenas estudando.
Entre esse momento e sua aprovação no TRF2, passaram-se cerca de 2 a 3 anos de estudo intenso enquanto trabalhava em tempo integral.
A rotina impossível que se tornou possível
Como estudar para um dos concursos mais difíceis do Brasil trabalhando em tempo integral?
Vitor construiu uma rotina que parecia impossível, mas funcionou:
“Eu acordava todo dia mais ou menos 10 para as 5 da manhã. Às 5:15, 5:30 da manhã, eu já estava sentado estudando. Lembrando, eu já tinha 42, 43 anos de idade. Eu voltei a fazer isso. Estudava ali mais ou menos umas 3 horas.”
Depois, ia para a Polícia Federal e trabalhava. Qualquer tempo disponível no almoço era tempo de estudo, mesmo que fosse meia hora ou uma hora.
“Qualquer tempo livre era tempo de estudo.”
Saía da Polícia Federal às 17h30 ou 18h e ia para a academia. Ele não parou as atividades físicas para estudar, pois achava que seria um desgaste muito grande.
E aqui vem a sacada: depois da academia, por volta das 19h ou 19h30, Vitor não ia direto para casa.
“Eu saía da academia às 7 horas, 7:30 da noite, mais ou menos. Sentava na praça da alimentação e já ia estudar com meu fone de ouvido, com meu computador, com meu celular. Por quê? Se eu saísse da academia, pegasse o carro até chegar em casa… chegou em casa, tem esposa, tem as rotinas da casa […] Mas é óbvio que aquilo ia tirar meu foco. Então, mais uma vez, tudo que eu podia extrair de tempo disponível no meu dia, eu extraía.”
O método que funcionou: estudar sem ter tempo
A resposta veio na forma de um método próprio, adaptado à sua realidade.
1. Aproveitar todo e qualquer tempo livre
Vitor descobriu que não precisava de 8 horas seguidas de estudo. Ele precisava de consistência e inteligência no uso do tempo.
“Todo e qualquer tempo livre tem que ser aproveitado. […] Eu revisava tomando banho, eu colocava o celular para tocar na caixa de som, tomando banho, eu revisava, indo trabalhar eu colocava no carro e ia revisando.”
2. Lei seca através de videoaulas
Vitor descobriu que as videoaulas eram o formato ideal para sua rotina.
“Eu comecei, João, a estudar lei seca por videoaula.”
Ele assistia as videoaulas no celular, em velocidade acelerada (1.2, 1.5, ou mais), e fazia prints dos slides importantes.
“Pois bem, eu comecei a estudar lei seca por videoaula, mas no seguinte sentido. Eu assistia no celular normalmente. […] De acordo com que o professor ia passando os slides, eu printava os slides. Após acabar aquela aula, eu passava do próprio celular os slides para um drive no próprio celular mesmo. Em 10 minutos eu conseguia revisar, passando os slides assim, ó, uma aula que durou 2 horas meia em 10 minutos, eu revisava no mesmo momento e também pegava a legislação seca daquilo e lia na mesma hora. Esse era o meu método de estudo que eu chamo de lei e videoaula.”
O segredo estava na praticidade: tudo ficava salvo no drive, acessível pelo celular a qualquer momento.
3. Jurisprudência de forma estratégica
Para jurisprudência, Vitor usou sites especializados para otimizar o tempo.
“Eu achava que o meu tempo era muito escasso. Eu teria muita dificuldade em ficar acompanhando os informativos diretamente no STJ, procurando o que que teve de novo em repetitivo, procurando no STF o que que tinha de novo em repercussão geral. […] Então eu gostava de a cada 15 dias, ou especialmente quando ia ter algum novo concurso público, era lançada uma apostila de jurisprudências focadas em determinado concurso. Eu lia aquele material todinho. […] E eu ia passando para o meu caderno no Word de jurisprudência.”
Ele lia as apostilas completas de jurisprudência focadas nos concursos e fazia um caderno no Word, copiando e colando as teses principais.
O que Vitor decidiu NÃO fazer desde o início
Tão importante quanto saber o que fazer é saber o que NÃO fazer. Vitor, com sua experiência prévia em concursos e análise de custo-benefício de tempo, decidiu desde o início o que NÃO faria:
1. Fazer resumos escritos ou cadernos manuscritos
Vitor foi categórico sobre isso.
“Mas o caderno escrito jamais e mesmo que digitado de doutrina e tudo jamais […] Eu não estou falando que seja o melhor método, até porque colegas também aprovados aqui da magistratura estudavam escrevendo. Mais uma vez, vai talvez da análise de custo benefício em termos de tempo. Eu achava que aquilo lá ia me consumir muito tempo.”
Para sua rotina, fazer resumos seria inviável. Ele precisava de algo mais rápido e acessível.
2. Ler manuais para prova objetiva
Vitor também decidiu desde o início não ler manuais para a prova objetiva – apenas para a subjetiva, onde seria necessário conhecer as obras dos examinadores.
“Eu acho que para prova objetiva, ler livros de doutrina não é recomendável, diferentemente da prova subjetiva, que aí você tem que fazer uma análise de banco e aí talvez seja um outro assunto para a gente conversar. Mas para a prova objetiva, penso eu, que livros manuais e até mesmo PDFs, sejam quase que desnecessários.”
Foi mais uma escolha estratégica baseada na análise de custo-benefício do tempo disponível.
3. Estudar muitas matérias por dia
Vitor tinha clareza desde o início: para quem trabalha em tempo integral, estudar muitas matérias no mesmo dia não funciona.
“Eu achava que estudar três, quatro, cinco matérias por dia para quem não tem tempo e tem que conjugar como um trabalho é muito desgastante. […] Eu estudava em regra, no máximo duas matérias por dia, mas eu fazia um planejamento. Mais uma vez, eu era bastante organizado.”
O momento da virada
Depois de quase 3 anos de preparação, Vitor finalmente conseguiu e foi aprovado para Juiz Federal do TRF-2.
Ele que havia começado a estudar aos 40 anos, trabalhando em tempo integral, sem abrir mão da vida pessoal, conseguiu realizar o sonho.
A aprovação trouxe não apenas a realização profissional, mas também uma grande mudança de vida.
Vitor saiu de Brasília, onde havia vivido toda a vida, e se mudou com a esposa para Niterói, no Rio de Janeiro.
Foi um recomeço completo: nova carreira, novo estado, nova vida.
E sua esposa foi fundamental em toda essa jornada. Ela acompanhou, apoiou e também se sacrificou junto.
A mensagem final: disciplina acima de motivação
No final da entrevista, Vitor deixou uma mensagem poderosa para quem está estudando.
Quando João Mendes pediu uma frase que todo concurseiro deveria ver ao abrir o caderno todos os dias, Vitor não hesitou:
“Não pense, não espere motivação, apenas faça.”
E completou:
“Esperar motivação todo dia de manhã, 4:30, 5 horas da manhã, não dá. […] Não pense, apenas faça o que tem que ser feito.”
Essa filosofia resume perfeitamente a jornada de Vitor.
Ele não esperou o momento perfeito.
Não esperou ter 8 horas livres por dia.
Não esperou sentir vontade de estudar.
Ele simplesmente fez o que precisava ser feito, todos os dias, com consistência e inteligência.
Vitor é a prova viva de que é possível
Aos 42 anos, trabalhando em tempo integral, sem abrir mão da vida pessoal, Vitor Soares se tornou Juiz Federal.
Ele provou que não é preciso ser um gênio ou ter condições perfeitas.
É preciso ter método, disciplina e um uso inteligente do tempo.
Se você também sente que não tem tempo para estudar, ou que já passou da idade para tentar concursos difíceis, a história de Vitor mostra que você está errado.
É possível.
Se você também quer otimizar seus estudos e dar os próximos passos rumo ao seu cargo dos sonhos, clique aqui e comece sua jornada conosco.
E para assistir à entrevista completa do João Mendes Entrevista com Luiza Jacob, clique aqui!
Abraço,
Time Ênfase